
Cris era uma criança destemida. Gostava de chocolate, de brincar às escondidas com os amigos do bairro e de animais. Gostava de observar as estrelas.
Numa certa noite, a chuva de meteoros anunciada despertou a sua atenção.
Sozinho, deitado na varanda esperou o início do festival. Era a primeira vez que iria poder ver as ‘estrelas cadentes’. Estava empolgado. Ele acreditava que se pedisse um desejo ele podia realizar-se.
Quando uma luz cadente se plasmou no céu ele aplaudiu vigorosamente. Estava radiante.
Refletiu… não queria que fosse um desejo egoísta. Pensou nas crianças que choram esfomeadas ou por doença e que chorando fazem seu modo de vida, não por sua vontade.
Mal ergueu a cabeça três luzinhas no céu desceram rápido, tal como ele quando anda de escorrega. Desta vez os pedidos iam para a sua família. Que o pai amasse tanto a sua mãe que nunca mais a fizesse chorar. Que a mãe tivesse mais tempo para estar com os dois filhos, nem que fosse só um pouquinho de colo no sofá… Que o mano pudesse saber escrever fazendo a letra mais bonita.
Cris arrumava as suas ideias numa gaveta com várias divisões. Não deitava nenhumas para o lixo. Sabia que um dia podia ir lá rebuscar e depositar ideias que tinham a ver com as que já estavam guardadas e por isso colocava-as nas mesmas secções. Assim também podia encontrar espaço para mais algumas.
O João-pestana teimava em deitar-se na manta da varanda. Cris hesitou…de repente o céu ilumina-se. Uma chuva celestial que mais parecia fogo-de-artifício. Esta não era uma chuva qualquer, ela vinha do céu.
Ele sabia que Deus mora no céu e por isso dedicou-lhe tal cenário, dizendo: «É para você Deus, para que se sinta feliz, afinal você é o autor de tudo isto e um autor tem orgulho do que faz…». Ia manifestar os seus múltiplos desejos quando escuta a mãe a chama-lo para ir para dentro. Ficou triste mas decidiu obedecer.
Quando chegou à sala o irmão saltava feito louco em cima de uma almofada: «Mano, mano, olha, olha, já consegui escrever o meu nome!»
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