Lembras-te de nós no baloiço?
Eu segredava-te ao ouvido que gostava de ti e tu, muito envergonhado, fingias não perceber.
Eram tardes saborosas num frenesim de brincadeiras.
Não foram momentos apenas, foram folhas do meu livro de vida. E cada vez que as folheio sorrio de saudades de ver as tuas bochechas rosadas do sol.
Mais um dia e outro e não entendo como nos distanciámos. A amizade sincera ficou tapada no pote da lembrança. Faço uma força enorme sempre que tento destapa-lo.
A tua voz e gargalhadas estão gravadas.
Partiste para longe e não mais te pude encontrar. Foi o caminho que traçámos sem querer traçar.
Espero-te até a este instante da minha vida.
Por mais garrafas que tenha lançado ao mar com bilhetinhos, acho que foram muito poucas, senão terias visto uma na tua direção. Julgas que desisti? Não!…
O baloiço sobreviveu ao desgaste. Podemos recuperá-lo juntos, gostavas?
Por isso, o meu livro tem páginas vazias para escrever contigo.
Sabes onde estou agora? Sim, isso mesmo, estou a balançar ao som do canto dos pássaros. Fecho os olhos e recosto-me para trás, fingindo que o tempo não passou…
2017. (escrita criativa a partir de uma imagem). Foto: internet