Ela sentia o peito detonar. Infinita neblina nos olhos. A face amarrotada. O colchão vergado tentava empurrar-lhe o corpo. Os cabelos enxugaram-lhe as lágrimas inúmeras vezes. Esses, caídos no chão, serviam de ninho para os bichos. Agora, no leito da vida, restava-lhe a corrosão do pensar.
Os seus gemidos já não acordavam a vizinhança. O furacão devastador do tempo tinha-lhes roubado a tradição das quartas-feiras.
A sua voz enlouquecera de tanto pronunciar o mesmo nome, mas o filho não lhe obedecia.
Quando fechava os olhos vestia-se de rainha, almejava a noite dançante à luz das estrelas, ouvia canções de amor, deitada no regaço. No peito erguia-se a madrugada que lhe acariciava a face. E depois, demorava-se a apanhar fruta debaixo do sol escaldante que lhe reluzia o cabelo.
Mas ao despertar, a escuridão inundava-lhe o espírito, dava-lhe vergastadas e obrigava-a a ingerir o vinho da embriaguez.
Voltou o filho, clamou pelo nome da mãe.
Era uma tarde silenciosa.
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