Fui à biblioteca estudar. Deparei-me com duas raparigas a sussurrar como em dia de serão. As mãos irrequietas, o olhar sem piedade denunciava o preconceito. Eu nem queria acreditar! Elas estavam a falar do José, o rapaz alheio ao mundo. Sem querer ou pelo insaciável desejo, saiu-lhes o ardor:
– É mesmo tóto o franganito!
– É um zero à esquerda! Não vale nada!
– Devia era estar internado…
Eu, em clímax, arranquei a cadeira do seu estado pacato, dirigi-me às ardilosas donzelas:
– Desculpem, passa-se aqui alguma coisa? É que o meu colega não é digno de tantos elogios…
– Ah, Ah, Ah, Srª advogada, deseja ir lá fora?
– Oh Sónia, deixa estar, ela está com comichão no rabiosque…por isso é que se levantou…
– Gostava que pudessem ter alguma tolerância, ser diferente enriquece! Enaltece o espírito!
E dito isto, deixei-as marear em palavras ocas, sentando-me na frente do rapaz. Ele, em serenidade, sorri para mim e estende a mão. Eu nem sabia língua gestual…
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