Preconceito

33320394 1710589492387216 1030171566920433664 n


Fui à biblioteca estudar. Deparei-me com duas raparigas a sussurrar como em dia de serão. As mãos irrequietas, o olhar sem piedade denunciava o preconceito. Eu nem queria acreditar! Elas estavam a falar do José, o rapaz alheio ao mundo. Sem querer ou pelo insaciável desejo, saiu-lhes o ardor:

– É mesmo tóto o franganito!

– É um zero à esquerda! Não vale nada!

– Devia era estar internado…

Eu, em clímax, arranquei a cadeira do seu estado pacato, dirigi-me às ardilosas donzelas:

– Desculpem, passa-se aqui alguma coisa? É que o meu colega não é digno de tantos elogios…

– Ah, Ah, Ah, Srª advogada, deseja ir lá fora?

– Oh Sónia, deixa estar, ela está com comichão no rabiosque…por isso é que se levantou…

– Gostava que pudessem ter alguma tolerância, ser diferente enriquece! Enaltece o espírito!

E dito isto, deixei-as marear em palavras ocas, sentando-me na frente do rapaz. Ele, em serenidade, sorri para mim e estende a mão. Eu nem sabia língua gestual…


Foto: internet

Assinatura-Andrea-Ramos

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações com indicação da fonte, sem prévia autorização da Autora.

Partilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

zeca

Zeca

ꟷ Cansado, eu? Sim, muito cansado, farto até. Fartei-me de a aturar. Ela fazia-me mal. Aguentei muito. Aguentei demais. Abusava da minha confiança, da minha dignidade. O meu corpo marcado ora pela fome, ora pela

Leia mais »
o melhor presente

O melhor presente

A sala iluminada, a árvore enfeitada no canto, os presentes no chão, a lareira acesa. A família reunida à mesa. Os avós, os pais, os filhos de olhos arregalados para ver por onde começar, se

Leia mais »
Scroll to Top