Ficou um caminho por descobrir. Nunca, nunca o achou. Tentou, tentou…
Cabelos brancos, as pernas fatigadas. Helena… só Helena. Helena só.
Metia dó!
Em noite de lua cheia, sentia-se acompanhada.
Nas outras noites, o céu olhava, as estrelas contava. Indagava-as pelo caminho, mas nada, nem uma resposta! O céu, sim, esse! Era a testemunha viva das estaladas, dos pontapés. O rosto marcado não era mostrado a ninguém há muito. A viuvez trouxera-lhe alguma paz.
A voz trémula e sem força contava histórias inventadas aos filhos que não tivera.
Família, não tinha, ou fingia que não. E sem saber a razão, os vizinhos julgavam-na maluca.
Helena, por toda a sua vida, descobrira apenas um caminho: o da tristeza, da dor, do desgosto.
Aos serões, a cadeira de baloiço escutava-lhe os ressentimentos, as mágoas que guardava afincadamente.
O caminho da ternura, do carinho, do amor, qual quimera que em tempos quisera. Mas foi-lhe arrancado à força, negado!
O vigor já acabado arrancava a esperança do peito. A solidão encetava o desejo cruel da morte. Que triste a sorte a de Helena! A sua alma não era pequena…
Um dia, levantando-se da cadeira, alheada, caiu na terra do caminho de casa. Tentou gritar mas a voz não lhe saía. As lágrimas, essas já tinham secado. O sangue que jorrava da cabeça escrevia na terra.
Helena escutou uma voz:
-Morre, Helena morre!
Helena fechou os olhos e imaginou o caminho que nunca descobrira.
Foto: Kaique Rocha