Pobre Helena

pexels photo 775203Kaique Rocha

Ficou um caminho por descobrir. Nunca, nunca o achou. Tentou, tentou…
Cabelos brancos, as pernas fatigadas. Helena… só Helena. Helena só.
Metia dó!


Em noite de lua cheia, sentia-se acompanhada.

Nas outras noites, o céu olhava, as estrelas contava. Indagava-as pelo caminho, mas nada, nem uma resposta! O céu, sim, esse! Era a testemunha viva das estaladas, dos pontapés. O rosto marcado não era mostrado a ninguém há muito. A viuvez trouxera-lhe alguma paz.

A voz trémula e sem força contava histórias inventadas aos filhos que não tivera.
Família, não tinha, ou fingia que não. E sem saber a razão, os vizinhos julgavam-na maluca.

Helena, por toda a sua vida, descobrira apenas um caminho: o da tristeza, da dor, do desgosto.

Aos serões, a cadeira de baloiço escutava-lhe os ressentimentos, as mágoas que guardava afincadamente.
O caminho da ternura, do carinho, do amor, qual quimera que em tempos quisera. Mas foi-lhe arrancado à força, negado!

O vigor já acabado arrancava a esperança do peito. A solidão encetava o desejo cruel da morte. Que triste a sorte a de Helena! A sua alma não era pequena…

Um dia, levantando-se da cadeira, alheada, caiu na terra do caminho de casa. Tentou gritar mas a voz não lhe saía. As lágrimas, essas já tinham secado. O sangue que jorrava da cabeça escrevia na terra.

Helena escutou uma voz:
-Morre, Helena morre!

Helena fechou os olhos e imaginou o caminho que nunca descobrira.


Foto: Kaique Rocha

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações com indicação da fonte, sem prévia autorização da Autora.

Partilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

a minha tia

A minha tia

Olhou para o relógio de pulso, orgulhosa. Uma prenda do marido. Maria fazia a viagem de comboio para ver a tia, doente há algum tempo. A tia que a ajudou a crescer, que a ensinara

Leia mais »
Estrela natalícia

Estrela Natalícia

Disse-lhe o nome e o comboio percorreu os trilhos furtivamente. Ele, inesperadamente, lançou o livro janela fora. O coração dela pulou de ânimo mas desfaleceu logo a seguir. Não sabia se o voltaria a ver.

Leia mais »
desnorteado

Desnorteado

Era a tarde de mais um dia. Escurecia…Jonathan já cansado e desgastado da vida, fiel à sua persistência, ali estava, senão a dormitar sob a relva esperança do horto colossal. Jardim esse, que perdera todas

Leia mais »
Scroll to Top