Ela nascera plebeia. Não lhe corria sangue azul na veia. Pais trabalhadores ensinaram-na a preparar o seu futuro. Com poucos recursos suportaram-lhe os estudos.
Estava habituada a dormir pouco. Ajudava nas tarefas de casa e da quinta, alimentando os animais, semeando, regando e colhendo as frutas e legumes. À noite, antes de dormir, gostava de ler histórias de amor que tivessem final feliz.
Um dia, determinada, saiu de casa rumo ao norte, ia tentar a sua sorte. Despediu-se com lágrimas nos olhos, certa de que empenhando-se iria conseguir o seu sustento e algo mais.
Nada devia à beleza. A sua longa trança enfeitava-lhe o vestido.
Ficou inicialmente num quarto alugado, depois arranjou trabalho cuidando de uma idosa. A velhinha era a sua companhia e ensinava-lhe como viver sabiamente.
Levava a sua companheira a passear no jardim. Primeiro olhava-se na água do lago. E todos os dias era assim. Mas quando chovia ela tapava os ombros da anciã com um xaile, acendia a fogueira e ficavam as duas à janela imaginando o sol a jogar às escondidas.
Certo dia, chegadas ao jardim, corria um nevoeiro cerrado, esquisito. Ela não pôde ver a sua figura no lago. Ficou desolada. E por vários dias o cenário se repetiu. Foi então que a sua companhia partiu.
O lago gelou.
O seu futuro chegara.
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