O petiz amava mergulhar nas águas frias de Santa Cruz. Aprendera a nadar nas aulas de iniciação aquática. A cada verão, era vê-lo na sua prancha a fazer brilharetes. Passara a fase das birras para sair da água.
Certa vez, deitado na toalha, rabiscava na areia. A mãe chamou-o para comer as sandes de carne assada e ele, não respondeu. Estava esquisito! Nesse dia, não voltou para a água. Após o interrogatório no carro, encolhia os ombros, dizendo que não era nada. Passou o resto das férias em casa da avó, no Norte.
As aulas iniciaram e a professora primária resolveu conhecer os seus alunos de modo diferente. Fez um jogo: através de mimica, teria de adivinhar o que o aluno (a) mais gostaria de vir a fazer no futuro, detalhes da família e a comida preferida. Ele ficou sentado e não quis participar, apesar das várias tentativas por parte da docente e dos colegas.
Quando chegou a casa, determinado, abordou a mãe, que preparava bolachas de manteiga. Sentou-se para escutar o filho.
ꟷ Mãe, porque me deste este nome?
ꟷ Filho, sabes a razão, expliquei-te várias vezes. O que se passa?
ꟷ Lembraste daquele dia na praia?
ꟷ Qual, filho?
ꟷ Aquele: não fui para a água?
ꟷ Sim, então… o que me queres dizer?
ꟷ Eu fiquei com medo. Vi um homem a tentar afogar uma mulher, mas ela conseguiu escapar. As pessoas todas na praia? Acho que não se aperceberam! Foi por isso que vim logo para a toalha.
ꟷ Oh, filho, porque não me contaste logo?
ꟷ Mãe, quando eu crescer, posso ser nadador-salvador?
A mãe abraçou-o e uma lágrima do pequeno rosto caiu no seu ombro. Ela percebeu o processo de decisão do rapazote. Não bastava o nome, salvaria pessoas!
Foto: Jonathan