
Era um tempo diferente sim
Não tinha pressa de ser gente ou de ganhar a corrida
De sonhos ausente como se vivesse despida
Brincava assim
Procurava agulhas da (querida) costureira
Que já estava num frenesim
Uma saia às pregas para a boneca que não tinha
Entre linhas e botões aprendi a fazer bainha
E era o baloiço de uma cabana cenário
Enquanto mães esfregavam roupa à mão
As primas criavam o mistério
Aquele faz de conta que eu levava muito a sério
A pé para a escola
Quebrava o gelo nas poças do caminho
Lá cantavam-se canções, jogava-se ao lencinho
O medo das reguadas era vigente
E nós, pedaços de gente
Aprendíamos a ser
Onde o respeito, naturalmente, vinha a acontecer
De cabelo ouro entrançado
Por dedos trabalhados na lida
Mesmo sem bolo de aniversário
Entendi que o amor é a chave da vida
Foto: Andrea Ramos