«Eye Contact»

Imagem2 1

Ei-los chegados à praia. O carro a abarrotar de tralhas. O pai, a mãe e a filha. O céu nublado nem deixava ver o sol. Caía um borriço teimoso.
Instalados na areia, cheios de frio, cada um embrulhado na sua toalha, sentados nas cadeiras às riscas, temendo que o dia não abrisse. O guarda vento montado e a geleira debaixo do guarda-sol. O pai resmungava. Viera contrariado. A filha queria ir ao mar buscar água mas ele nem a deixava dar um passo. «Brincas aqui!».
«Mas pai…»
«Nem mas nem meio mas, brincas aqui».
A mãe desenrolou as sandes e deu uma a cada um. Estava farta de os ouvir.
A pequena, amuada engoliu o pão que mais parecia uma pedra na garganta apertadinha.
As nuvens desfizeram-se e o sol veio radiante. A mãe procurou na bolsa de praia o protetor solar e encheu de pasta gordurosa esbranquiçada as costas da filha e marido. Estenderam as tolhas e ele disse para a mulher «traz aí as cartas para ver se o dia passa mais depressa». A filha nem uma palavra. De balde na mão enchia e esvaziava. Com a pá fazia pequenos buracos e logo encobria os pés.
A praia já repleta. As ondas do mar acalmavam-se. Bandeira verde e corpos saltitantes para a água.
Claudia, a filha ficou espantada quando viu o camião do menino da família que se instalara perto deles. Ele carregava-o de areia e enchia os cinco baldes. Sem que o seu pai desse conta ela deslizava a tolha para observar mais de perto. Foi então que o menino sai a correr e esbarra nela. Prostrado na areia, meio desajeitado e com uma fúria destravada, fita-a nos olhos. Ela, cabisbaixa, nada fez, nada disse…ela só queria brincar!
O pai dela apercebeu-se e chamou-a. O menino acompanhou-a. Pediu desculpa ao pai e perguntou se podia brincar com a filha. Ele com pouca vontade disse para ficarem no meio das duas famílias.
Pedro e Cláudia brincaram como se conhecessem desde sempre. Risadas e mais risadas. O pai de Pedro tinha trazido todos os baldes cheios de água. Um castelo como o das princesas surgiu e eles imaginaram-se lá com os seus criados, os manjares em mesas enormes, os guardas…olharam-se de novo e riram, deixando-se cair para trás na areia quente. Não sabiam que nascia ali algo maior.

Foto: internet

Assinatura-Andrea-Ramos

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações com indicação da fonte, sem prévia autorização da Autora.

Partilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

almofada

Almofada com super poderes

Era uma vez uma almofada com superpoderes, julgava o Salim. Todas as noites, numa espécie de quarto, Salim, em cima da almofada improvisada, voava. Fechava os olhos, abria os braços e suspirava. O vento empurrava-o

Leia mais »
natal cor de rosa andrea ramos

O Natal é cor de rosa

Naquele dia, ela tinha vontade de dar. Não sabia como fazer, como começar. Recortou um pai Natal bondoso de uma revista. Ela sabia que ele deixava as crianças cheias de gozo e contentamento. Mas, lá

Leia mais »
desnorteado

Desnorteado

Era a tarde de mais um dia. Escurecia…Jonathan já cansado e desgastado da vida, fiel à sua persistência, ali estava, senão a dormitar sob a relva esperança do horto colossal. Jardim esse, que perdera todas

Leia mais »
Scroll to Top