– Olá!
(Dizia ele virado para a montanha tentando perceber se alguém o escutava).
As pessoas olhavam-no com desprezo.
E ele repetidamente dizia:
– Olá! Olá!
E ninguém lhe respondia.
Vivia isolado.
Todos os dias o mesmo. Todos o julgavam sem o conhecer. Nem sequer lhe dirigiam palavra.
Aquela era uma sociedade individualista (onde é que eu já vi isto?). O alheamento era geral. O egoísmo crescente gerava sentimentos de angústia. Aquela comunidade não tinha a perceção de que fazia mal a si própria. Não havia entreajuda e o preconceito criava cidadãos irrealistas.
Mas um dia aquele sujeito teve uma ideia. Vestiu o seu melhor fato, colocou o perfume das flores do seu jardim e foi varrer as ruas daquela cidade. Sempre que passava alguém perguntava-lhe o nome. Depois na passagem seguinte e dizia:
-Olá Joana.
– Olá Bernardo.
– Olá Ricardo.
Afinal todos tinham um nome. Ele não olhava para as roupas nem para os objetos que traziam. Apenas olhava cada rosto, olhos nos olhos. E sorria.
(Imagine-se o final da história!)
Foto: internet. Dedicado ao Serve The City Portugal pelo excelente trabalho que têm desenvolvido na cidade junto de todos quantos têm um nome e o seu olá carece de ser escutado e retorquido. http://www.servethecity.pt/