
Sozinho em meio à multidão? Quem já se fechou na prisão do ser? Todos nós, nalgum momento, nos sentimos sós. No silêncio, escuto o ritmo do coração, perscruto quem sou, o que faço no mundo.
Pergunto-me porque razão existe o mal, os dias turbulentos, a tristeza e a dor. Pergunto-me porque perdemos gente dos ecrãs, que amamos.
Pergunto-me porque o riso das crianças não ecoa dentro do peito das pessoas que estão em profunda solidão. Uma emoção que afeta a saúde mental, quando persiste.
Uma chamada à distância, ligar a um amigo, à ‘SOS voz Amiga’, pedir apoio profissional, fazer voluntariado, adotar um animal, podem ser algumas estratégias para lidar com ela. Philip Yancey, autor premiado com 14 milhões de livros vendidos, diz que escreve livros para si mesmo: (Onde está Deus quando chega a dor?) «escrevo livros para resolver questões que me incomodam, coisas para as quais não tenho resposta». Podemos desabafar com o papel, escrevendo as agruras num caderno ou na tela do PC?
E, eis que cogito na maldição de génesis. «A terra dará cardos, a mulher terá dores de parto e o trabalho será com suor». Enxergamos o ‘mundo às avessas’. Vagamos no planeta sem conhecer a verdadeira razão pelo qual nascemos. E uma vez mais, questiono o que leva alguém a tirar a vida? À procura de respostas que nunca encontrou? Explicações para o dilema interior? A solidão transformada em monstro devorador que capta a mente e conduz a ações sem volta atrás?
Escrevo lembrando gente. A solidão mata. Os que navegam em dor agonizante. Muitas pessoas desabafam comigo e percebo que não tenho a solução para os problemas. Posso dar o ombro amigo, o tempo de escuta, em vez de conselhos à medida, como se soubesse de tudo.
Precisamos guardar o amor próprio em frascos na despensa para ter sempre à mão.
Recordo uma senhora que só queria ir a Lisboa. O problema? Obesidade mórbida, o corpo preenchia toda a cama; não havia ambulância para a transportar, nem gente para a carregar. Impossível? Acho que não. Morreu sem cumprir o sonho. Bastaria tirar os bancos da ambulância, pôr almofadas em volta e um grupo de pessoas para a carregar?!
A esposa que suporta as bebedeiras, outra que não se sente valorizada, apenas controlada. O jovem que, ansioso relata a situação de pânico. O pai que não pode ver a filha porque a mãe a tem como troféu. A família longe que não pode dar ‘uma mãozinha’ a quem se sente sozinha com um filho nos braços e ter de trabalhar horas a fio por ser mãe solteira. E mais exemplos não faltam…
Pergunto-me como ajudar cada uma destas pessoas, como chegar ao seu mundo? Terá cada mundo interior a sua maldição? Será a chave do propósito de vida? «O rapaz que prendeu o vento» encontrou o seu propósito? Como vivê-lo na Europa assistindo a uma guerra sangrenta que parece não ter fim? Há propósitos bons para o mundo, para a mãe terra, para as pessoas e outros propósitos que matam, que geram desgraça e outros, que nascem a partir de circunstancias difíceis.
Reprogramar o pensamento, superar frustrações. O filme ‘Lion’ dá-nos a chance de entender que as circunstâncias ditam o destino, porém, ser resiliente e não desistir do sonho, pode conduzir à solução.
A maldição dos nossos dias. Tiago Carvalho escreveu, recentemente ‘que ela parece aumentar o risco de morte’ e Raquel Raimundo diz-nos que ‘ataca o cérebro e o coração’. A solidão da alma. Encontrar o sentido de pertença, o lugar no mundo, o sentido da vida. Pode a arte ajudar-nos a expressar emoções de forma criativa? Talvez uma terapia, um caminho. Pode a fé ser a fonte de conforto e esperança? Encontrar uma comunidade, participar num grupo com os mesmos ideais e valores, conexões significativas?
Resta-me acreditar que, um dia, talvez, teremos todas as respostas. A dias de fazer voluntariado em África, sei que descobri o meu propósito: pessoas. Amo a arte da individualidade, sem comparações. Descobri esse propósito encarando as dificuldades como oportunidade de crescimento. Saí do ermo há muito. A virtude da persistência e o defeito da teimosia. Na solicitude, cogito o que posso fazer melhor para tornar o dia de alguém mais luminoso. Gostaria de plantar jardins nos corações, a mania de cultivar plantas. Amar como posso, viver um dia de cada vez, porque «basta a cada dia a seu mal».
1 opinião sobre “Enfim, sós?!”
Quanto mais evoluído o mundo, maior a solidão! Uma “doença” a ser combatida. Que cada um faça a sua parte! Obrigada Andrea