O tédio dará lugar ao prazer, teremos o encanto da vida dentro do bolso como lenço. Uma ferramenta para o sucesso, haveremos como povo, encontrar. Sem mendigar o pão, seremos a multidão que aprende a contemplar.
O dia das coisas pequenas, a saia com bainha, o dedal da costureira, o segredo da amiga, o dedo mindinho sarado. A consoante e a vírgula, uma palavra amorosa. Uma memória de infância, um odor que relembramos. Uma gota de orvalho, um beijo sem contar, o piscar de olho, uma pedra do chão, um botão.
Ter prazer de viver, fazer da vida um espetáculo, sem esperar admiração de alguém, deixar de ter sempre razão, acelerar o motor do bom humor. Dialogar com os amigos de sempre numa esplanada ou fazer novos amigos. Embarcar nos desafios como oportunidade, ‘agarrar o touro pelos cornos’. Ainda bebemos água da fonte.
Olhar em volta, contemplar o amor como o primeiro filho quando nasce. Escutar o riso das crianças no parque, sem preocupações. Ajudar a velhinha na passadeira. Sentir que a felicidade já brota como flor na terra dos insatisfeitos. Apagar do caderno o negativismo, pintar a arte, escrever o nome sem pecado.
Fazer das rugas caminhos de pacatez, escutar suas histórias, lágrimas no lago da alegria. Velhice, jovialidade da mente. Em vez de reclamar, agradecer. Dizer ao espelho que abandone as mentiras, que a vida é merecida e é para continuar. Amar o corpo que se fez velho pela estrada. Sabedoria adquirida, valorizada.
Não beber o veneno da vaidade, da comparação e da inveja. Humanidade bonita, diversa, instinto, sangue, sonhos, aventuras, amor de mãe, saudade, memória, lucidez.
Procurar a excelência como tesouro escondido. Cuidar das rosas do jardim. Embalar o bebé, sentir o cheiro a colónia. Imaginar animais de nuvens, sentir a maresia e o cheiro da casa limpa.
Fidelidade acima de tudo. Tempo para amar, sabores para degustar e cravos para cheirar. Jarras para enfeitar. Fazer tranças nos cabelos longos. Não sufocar ninguém, admirar o além.
Escrever o poema da vida com frases inovadoras. Ficar quieto, ouvir o silêncio da alma. O lençol sem mancha, maré de calma. Ouvir o canto dos pássaros, dormir a sesta na relva. Fazer da emoção gavetas espaçadas, arrumadas. Caminhar seguro, sem vacilar, seguir em frente no sentido de gente.
Pisar o medo como cabeça de cobra. Dizer adeus para sempre ao orgulho. Humildade de pobre, sabedoria.
Mudar o penteado, ouvir musica de graça, ver fotos ao serão ou tirar fotos na praça. Andar de baloiço. Sentar-se à lareira. Dignificar toda a raça. Aproveitar as sobras, não perder tempo a escolher a roupa. Dar milho aos pombos, comer dicionários.
O cheiro a café. Oferecer flores. O fado ainda é nosso!
Ensinar a pescar. Não ser só mais um. Ser um. Começar de novo. Tradições. Visitar cama de hospital. Tirar o preto e vestir cor. Ser ombro e não avestruz. Criatividade. Dar de graça. Pipocas a estalar. Há mais vida do que se julga. Há choro de alegria debaixo de escombros. Uma bandeira a erguer. Receber sem merecer. Dar a mão, o bater do coração.
O copo de vinho ao meio-dia. Fazer da casa lar, valores a estimar. Enviar postais. Passear o cão. Doar tempo urgente. Abraçar sem desculpas e com todos os motivos. Esforço, trabalho, resiliência. Deixar passar quem está com pressa. Avisar quem vai em sentido proibido. Fazer do mendigo um companheiro amigo.
Sentada, escrevo a esperança que as andorinhas se lembrem de mim e venham fazer o ninho na minha varanda.
2 opiniões sobre “Em meio ao caos, ver o belo”
Que texto maravilhoso!
Muito obrigada, Lara. Beijinhos