
«Eles não nos ouvem!»
Foi a resposta de uma aluna de 1º ciclo ao referir-se aos seus pais, quando expliquei que o nome Simão, o protagonista de um dos meus livros, significa: a escutar, a ouvir.
Os pais… cansados, esgotados, um orçamento dançarino, o carro lambão e a engorda das paredes. Estar atentos aos filhos, dar-lhes voz é premente!
Fala-se da importância das crianças na sociedade? Quando é que uma ideia da criança solucionou um problema do adulto? Precisamos de ‘rapazes para prender o vento’ da corrupção neste país!
Quantos professores mencionam que os miúdos estão mais conflituosos, inquietos, depressivos? Diversas vezes, são eles que, assoberbados de burocracia e conteúdos, os escutam. Não se trata de achar os culpados, há que refletir o que andamos a fazer como povo às nossas crianças. Acreditemos nos filhos da geração!
Queremos tudo imediato, não gostamos de esperar. Criamos filhos à pressa? Porque a vida é uma correria? Colocamos bebés em instituições, depois, ao longo de anos encaixotados, uns felizes, outros nem tanto.
Pai e filho, sentados no degrau a conversar. Deixar por momentos a tarefa. Responder a pergunta inconveniente. Ensinar palavras difíceis. Ler dicionários.
Os alunos são avaliados segundo níveis. E se considerássemos os sinais e a vocação? Em vez de perguntar: o que queres ser quando fores grande, seria, o que queres fazer quando fores grande (trabalhando o ser a vida toda)? Um empresário relatou-me: «Não se ensina o empreendedorismo às crianças!» Na juventude, as escolhas vocacionais geram ansiedade e angústia, porque não antecipar cenários? Existem porém, modelos fora do tradicional, exemplo disso, a Escola da Ponte, em Santo Tirso.
Os pais conhecem os seus filhos. Como incentivar as crianças a trabalhar as suas áreas fortes? Se não as ajudarmos, identificando, fazê-las crer, fazer com elas, dar-lhes a chance, ajudá-las a sonhar, iremos colher mais do mesmo. Uma geração à rasca a segurar o futuro de ombros derreados.
Ter certeza do que se sabe, do que se tem, do que é preciso para passar etapa a etapa. Autoconhecimento. Ter consciência dos recursos e definir metas.
Um problema, o da comparação. E a ideia de que todos temos de ser o CR7 lá da terra. Todos têm de ser bons a matemática, a português, educação física e a educação visual.
O meu filho, quando era pequeno perguntou-me: «Mãe, achas que sou bom nalguma coisa?» Se não atentarmos para as crianças, como queremos que falem na adolescência, escolhendo conscientemente?
A Convenção sobre os Direitos da Criança visiona a criança e o adolescente como indivíduo, membro de uma família e comunidade. Direitos e responsabilidades apropriados à sua idade e estágio de desenvolvimento. (Unicef. Org)
Na escola primária, eram minhas as enormes redações. Na universidade, o primeiro exame foi lido em voz alta pelo professor como modelo de resposta. Sinais! Ninguém me disse: um dia vais ser escritora. O acreditar e não desistir, aí reside a diferença. Sonhar, praticar, praticar e ser resiliente. «Somos feitos do mesmo tecido de que são feitos os sonhos» William Shakespeare.
Perguntei a várias crianças do 1º ciclo quais eram os seus sonhos. Muitas delas responderam: «Não tenho sonhos!».
Miguel Quintana Pali, exímio empreendedor, no seu livro Xueños, La historia detrás de Xcaret, el mejor parque del mundo, deixa-nos um conselho: «ixueña y hazlo realidade! La más larga caminata comienza con un solo paso».
Quando damos passos, é um de cada vez, se não, erámos canguru.
2 opiniões sobre “«Eles não nos ouvem!»”
Tamanha verdade. Este povo que trabalha demasiadas horas, mas, que também se divorcia da educação dos filhos, sacudindo essa educação para a escola (entenda-se professores), mas, ela também enclausurada em promessas adiadas, não consegue entender que sem educação/cultura um país definha. Por isso a revolta não acontece! também porque embebedados pelo consumismo preferem um telemóvel última geração a uma hora de conversas com os filhos. Pobre país.
É triste saber que as crianças dizem que não são escutadas. Ando nas escolas a tentar ouvi-las e fazer da sua voz um grito de alerta. Na minha rubrica «Brincar com livros» tentarei reunir a família, os amigos, motivar a ler nesta sociedade que não gosta de pensar.
Agradeço o seu comentário, José!