Chorava por tudo e sobretudo por nada.
Aquela sensação de deserto perdurava ao cogitar na longa noite!
A saudade fazia com que desesperasse, por vezes.
Sim, chorava por amor! O amor louco e intenso que a fazia ser mais mulher.
Chorava recordando os abraços meigos que, por vezes, a tinham embalado até adormecer. Ah, se ela tivesse por perto o brilho daquele olhar penetrante…aqueles lábios ardendo em desejo…mas, nada! Só lembranças!
Chorava porque nada do que restava lhe preenchia o ser. Nada, palavra-chave do seu dia-a-dia…era mesmo assim que se sentia, um nada ser ambulante ao sabor da vida sem sabor!
Sem ele ao seu lado, era como se o ar estivesse sufocante. A distância entre oceanos assemelhava-se à distância entre galáxias. Tudo lhe fazia lembrar a sua cara-metade, quer estivesse em casa, na rua, ou mesmo no trabalho… apenas a esperança do regresso, no verão, acalentava a sua dor.
E o tempo jogava consigo às escondidas. Por mais que ela tentasse apanhá-lo para o fazer voar até ao desabrochar das flores, era um cansaço sem êxito.
E para sentir vivamente a voz do seu amor, ela ia até à praia, deixava os pensamentos à beira do mar e pedia-lhe que fossem levados pelas ondas. Talvez a maresia ajudasse…
Também sabia sorrir, ainda que timidamente. Sorria ao ler poemas escritos por ele dedicados a si. Mergulhada em paixão, fechava os olhos e sorria, deixando-se baloiçar por cada palavra…
Mas, enfim, restava-lhe aguardar pacientemente. Voltava então à mesma sensação, chorar por tudo e por nada, tal como criança desejosa da guloseima favorita.
Chorava, porque sim! E quando lágrimas escasseavam, ela olhava-se ao espelho de alma lavada e coração sem nada.
2016. Campeonato de escrita criativa. Foto: Zarina Khalilova