(Estou incrédula e em choque! Há semanas escrevi este texto e passado uns dias, uma criança autista é atropelada!)
«A sala não tem tamanho suficiente para trabalhar particularmente com a criança. Falta muita formação especifica a quem trabalha com estas crianças, que exigem mais tempo e mais atenção, sendo que cada uma apresenta problemas numa determinada área. Deveriam existir espaços calmos.»
«Torna-se agressivo quando é contrariado, outro tem dificuldades em comunicar e expressa-se através da sua frustração.»
«As educadoras de educação especial não têm horas suficientes para poder apoiar estas crianças.»
Relato de uma Educadora Infantil
Abril ainda vem longe e não precisamos de lá chegar para entender a dificuldade de tantos educadores de infância.
Falo do autismo.
Dia 2, o Dia Mundial para a sua Consciencialização.
Conhecido como transtorno da interação social. O transtorno é também para os educadores, que se vêm esgotados, assoberbados na tentativa de ajudar todas as crianças da sala.
Sabemos que as crianças têm um mundo pela frente. Que mundo, nós adultos, estamos a preparar para elas?
Quando vou a jardins de infância, observo o enorme esforço das educadoras e auxiliares, ao cuidar das crianças autistas e ao mesmo tempo, gerir todas as outras, realizar as atividades do currículo, lidar com os imprevistos.
Educadoras já não sabem o que mais fazer, para o bem das crianças perante a sua prática educativa.
Vários autistas no grupo, veem-se com apenas uma auxiliar na sala. Realizar pequenas tarefas e atividades em grupo é quase impossível.
Diria que existem supermulheres e super-homens!
Ter uma criança a rebolar no chão, a gritar ou a fugir requer outro nível de atenção e interação. Quem sofre deste transtorno tem o seu mundo. Para estas famílias é um novo mundo. Que formação e apoio são dados aos educadores e assistentes?
Leo Kanner e Hans Asperger (1943/1944), graças a eles, a sociedade pôde começar a perceber o espectro, as dificuldades no uso da imaginação, no contato visual, interpessoal, afetivo e na comunicação.
Existem vários graus do transtorno e os sinais de alerta estão descritos. A causa? Sugere-se que advém de fatores genéticos e ambientais. Para o diagnóstico e tratamento se tornar efetivo é necessária uma equipa multidisciplinar. O caminho da aprendizagem está a ser percorrido, porém, é urgente atender ao grito de socorro dos educadores. Como podem ensinar o grupo: 4 mãos para atender cerca de 40 mãos?
O aumento de casos é real!
A ONU previu o dia 2 de Abril para que as sociedades olhassem o autismo de forma integradora. Desde 2008, vários edifícios emblemáticos são pintados de azul. No presente ano, decorre uma campanha no Brasil: «Lugar de autista é em todo lugar!”. Há material disponível para ser descarregado e usar nas redes sociais, em t-shirts ou cartazes. Criaram ofícios, logotipo, história em quadrinhos da Turma da Mónica, alertando escolas, empresas e órgãos públicos.
A história de Benjamim (2016), caso de sucesso, faz-nos refletir sobre o que é viver frustrado quando se cresce imerso no autismo, percepcionamos que é com trabalho que se atingem objetivos e sonhos. Não diferente dos outros viventes?
Assista ao vídeo
Estas pessoas lidam com a adversidade. Ambicionam uma família, ser aceite, ser amado. Não querem todos o mesmo?
2022, ano da observância para o autismo.
Não bastará a promessa, há que definir estratégias que incluirão e facilitação a qualidade de vida dos autistas e de quem lida diariamente com a situação.
A ordem dos enfermeiros plasmou entidades que abraçam a causa, empenhadas em vencer, ajudam famílias, dão formação e ofertam serviços. Importa ressalvar que todos os profissionais carecem da qualidade na sua prática diária. E ainda restam todas as outras crianças!
O Dia Internacional dos Direitos das Crianças é também para os autistas! Sem discriminações! Com mais ações intencionais.
Junto a minha voz à causa, escrevendo.
Os educadores têm o meu obrigada!
E porque todos os dias, estão lá pelos nossos filhos.