Era uma vez uma almofada com superpoderes, julgava o Salim. Todas as noites, numa espécie de quarto, Salim, em cima da almofada improvisada, voava. Fechava os olhos, abria os braços e suspirava. O vento empurrava-o para terras longínquas mas nunca tivera medo de se perder.
Nas manhãs podia escutar-se Salim a refilar com as cabras do pai:
– Teimosas, não sabem obedecer? Desçam já daí!
Mas ele era mais persistente do que elas… escalava as rochas e depois… escaldava os pés!
Os meninos da aldeia ficavam de olhos esbugalhados ouvindo as histórias que Salim contava. Sentados debaixo da árvore Sangue de Dragão, abrigavam-se do calor tórrido e logo saltitavam ideias como pipocas. Depois, faziam desenhos na terra mas a exposição era itinerante! Também estava na areia branca da praia (só quando tentavam apanhar boleia com alguma baleia viajante).
Numa certa ocasião, o vento soprou como louco e as nuvens correram a maratona. Salim procurou desesperadamente a sua almofada mas ela tinha desaparecido. Ele ficou mais triste do que a noite.
– O que vou agora fazer? Nunca mais posso voar!
E Salim soluçava, ninguém o calava.
Vieram os amigos, tentaram animá-lo. Mas ele continuava a chorar.
A sua mãe colocou o Hijab para ir procurar. O pai pôs as cabras a farejar.
Salim emudeceu. Não tinha mais histórias para contar.
A ilha da felicidade nunca mais foi a mesma.
Salim cresceu e nunca esqueceu a sua almofada.
Tornou-se pastor. E sem ninguém saber deitava-se a tentar entender o que as nuvens lhe queriam dizer. Nesse ano, finalmente, começou a chover. Salim abrigou-se numa caverna, espantado com a multidão de morcegos, começou a gritar e sentou-se prostrado. Salim voltou a chorar. As lágrimas caíram destemidas e desenharam no chão:
«Para sonhar não é preciso razão».
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