Voltaste!

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Dei-te hoje o meu regaço.
Deitaste a cabeça e fechaste os olhos.
Estavas cansado de ouvir os estrondos, os estilhaços.
Cantei-te uma canção baixinho.
Passei a mão na teu cabelo, pareceu-me um ninho.

Embalei-te por instantes. Disseste que estavas farto da guerra.
E eu respondi-te: quem não está farto, afinal?
Nunca mais vi o jornal, é assustador ser um cenário real.
Tantos dias pensei, onde estarias tu? No hospital.
Enfim, chegaste inteiro, esfarrapado.
Um tanto de louco, um tanto apaixonado.

Chegaste todo, de mãos vazias, ensanguentadas.
Pedi-te para descansares um pouco.

O silêncio era urgente! Mas, até de olhos fechados te lembravas da tua gente!
Fiquei então quieta, calada. Sabia que a guerra é propositada.

Dormiste, finalmente, assisti acordada.
Estremecias, sonhavas em altas palavras, gritantes.

Fiquei ali na relva, contigo no meu colo a dormir.
Por fim, entendi! Voltaste pró teu amor, prá tua vida.

A guerra terminou!  

2022. Um poema dedicado aos homens da guerra, às mulheres que esperam por eles, às famílias quebradas. Foto: Vlada Karpovich

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