Tenho alguns problemas com esta frase nos funerais.
Parece até que andamos sempre a homenagear as pessoas enquanto vivas (o que deveria sim acontecer e não no momento da morte porque a pessoa já não pode assistir a tal homenagem), parece que isso é uma verdade, uma realidade. Nada disso! Não nos lembramos oportunamente de homenagear.
Deixamos que a vida corra depressa, permitimos que as palavras doces não sejam ditas e nem sequer honramos quem merece ser honrado.
Tantas vezes observamos ministros e presidentes a homenagear os extraordinários, aqueles que conseguiram algum feito. E onde está a homenagem às pessoas simples, aquelas cujo nome não se conhece na praça pública, aquelas que dão o seu tempo, que dão de si mesmas, que sorriem apesar das adversidades, que acalentam sem ser acalentados… e tantas mais pessoas incríveis que merecem ter homenagem digna.
E continuamos a escutar: aqui jaz, foi tão boa pessoa, foi, foi, foi.
E que tal trazer a homenagem para o presente? Apreciar os gestos de bondade, reconhecer, ser grato, a beleza da simplicidade, o olhar ternurento, o abraço bem apertado, o filho amado, o ente estimado. E tanto mais há para fazer, para dizer, para honrar…
Assim, é bom recordarmos quem amamos e já se foi. Mas essa lembrança também é dor. Assim, vamos então dar flores sem motivo, dizer eu te amo antes que o dia se esvaneça, abraçar e ser abraçado, não deixar ninguém de lado.
E tantas últimas homenagens continuam a ser feitas. Não que não se possam fazer. Mas as agendas cheias não permitem que as façamos enquanto é tempo, enquanto é preciso, enquanto é dia. Porque a noite é certa.
Fotografia: Akshar Dave