Pensamento do dia: A última homenagem.

A última homenagem

Tenho alguns problemas com esta frase nos funerais.

Parece até que andamos sempre a homenagear as pessoas enquanto vivas (o que deveria sim acontecer e não no momento da morte porque a pessoa já não pode assistir a tal homenagem), parece que isso é uma verdade, uma realidade. Nada disso! Não nos lembramos oportunamente de homenagear.

Deixamos que a vida corra depressa, permitimos que as palavras doces não sejam ditas e nem sequer honramos quem merece ser honrado.

Tantas vezes observamos ministros e presidentes a homenagear os extraordinários, aqueles que conseguiram algum feito. E onde está a homenagem às pessoas simples, aquelas cujo nome não se conhece na praça pública, aquelas que dão o seu tempo, que dão de si mesmas, que sorriem apesar das adversidades, que acalentam sem ser acalentados… e tantas mais pessoas incríveis que merecem ter homenagem digna.

E continuamos a escutar: aqui jaz, foi tão boa pessoa, foi, foi, foi.

E que tal trazer a homenagem para o presente? Apreciar os gestos de bondade, reconhecer, ser grato, a beleza da simplicidade, o olhar ternurento, o abraço bem apertado, o filho amado, o ente estimado. E tanto mais há para fazer, para dizer, para honrar…

Assim, é bom recordarmos quem amamos e já se foi. Mas essa lembrança também é dor. Assim, vamos então dar flores sem motivo, dizer eu te amo antes que o dia se esvaneça, abraçar e ser abraçado, não deixar ninguém de lado.

E tantas últimas homenagens continuam a ser feitas. Não que não se possam fazer. Mas as agendas cheias não permitem que as façamos enquanto é tempo, enquanto é preciso, enquanto é dia. Porque a noite é certa.

Fotografia: Akshar Dave

Assinatura-Andrea-Ramos

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução por quaisquer meios, salvo em breves citações com indicação da fonte, sem prévia autorização da Autora.

Partilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Artigos Relacionados

Somos Humanos

Somos humanos. Somos gente de algum lado, de alguma terra. Somos feitos da mesma matéria. Nascemos da mesma forma, todos caminhamos para o dia da morte. Muitos acham que Deus não existe. E têm esse

Leia mais »

O brasão da autoestima

Não vimemos na idade média, nem somos guerreiros de atos heroicos. Apesar disso, brasões são ainda usados como tradição, um símbolo familiar. No reino da mente humana existe o brasão da autoestima, um espelho que

Leia mais »

E se faltar o papel higiénico?

Em casa, chama-se alguém, resolve-se a situação. E num wc público? Procura-se o lenço na mala ou o papel das mãos. Momento para dar largas à criatividade. Abrir a folha do rolo, solução à vista.

Leia mais »
Scroll to Top