
Por onde andaste?
Pergunto-te e não respondes…
Que barco és tu afinal?
Vagaste imponente no mar
Carregado viste homens de força
E outros sem força cheios de vontade
E em verdade os viste chorar
Pela ventura do seu trabalhar
Lamentos e queixumes
Ouviste tu em surdina
Costas suadas, ensanguentadas
Pés descalços da popa à proa
Será que o tormento te fascina?
Eles não trabalharam à toa!
Embarcação antiquada
Estavas tu naquele porto atracada
Vestiste-te de nova para bem parecer
Debaixo de um tórrido calor
Nem o teu mestre te podia valer
Escondes segredos infindos, profundos
Na imensidão que desnudo te vê
O estandarte guias a outros mundos
Numa missão que é só tua
E ninguém sabe o porquê
Vi tua expressão luminosa
Numa paleta de cores quentes
Ali estavas tu, vaidosa, parada
Embarcação velha, mas airosa
De traços galantes, salientes
Para ostentar um pouco de nada
Faço-te hoje singela homenagem
Percebi-te desde aquele dia
História que não contaste
Uma fotografia. Jamais miragem.
Foto: Andrea Ramos