Sou mulher e voto. Tenho um prazer enorme em votar. Deu-me a chance de poder pertencer, mover a minha mão para um ato que antigamente não era permitido às mulheres. O que sinto é uma espécie de casamento entre mim e o meu país. O meu voto faz a diferença? Faz e qualquer um faz. É este entendimento de que todos os não votantes deveriam ter.
Façamos este exercício: perguntar a jovens quem foi a primeira mulher que votou. Um hospital tem o seu nome: Beatriz Ângelo. «O código eleitoral atribuía o direito de voto a “todos os portugueses maiores de vinte e um anos, à data de 1 de maio” de 1911, “residentes em território nacional”, que sabiam “ler e escrever” e eram “chefes de família.” Ela sendo viúva, aproveitou ser ela a chefe de família e a sua notória coragem permite a todas as mulheres exercer a responsabilidade de cidadãs, direito de sufrágio, artigo 49º. CRP – Constituição da República Portuguesa. Salienta-se o facto de ser a primeira mulher a realizar uma cirurgia em Portugal.
Sou mulher e tenho a liberdade de votar e de tantas outras coisas. A comemoração da liberdade é feita neste ano, são as bodas de ouro. Celebro a aventura de reunir com amigos, de escrever o que penso sem que um lápis azul pretenda corrigir e livremente falar de política, tal como a comunicação social. Na escola, tive turmas mistas, convivendo com todos e não tive a foto do Salazar na sala de aula. Afinal os cravos trouxeram uma mudança importante também no ato cívico – não só quem tem o ensino secundário vota. E minhas amigas enfermeiras, saibam que nem sequer se podiam casar. Ser mulher e sair do país, só com autorização do marido.
Hoje integro várias associações e nem me lembro de agradecer isso, talvez fosse importante explicar aos jovens que tais movimentos são uma conquista de um povo que mostrou como se faz a paz. O dia do trabalhador é mais uma celebração da revolução de abril. Há 50 anos não se namorava na rua. Hoje o investimento estrangeiro permite postos de trabalho, vendemos o país mas trazemos dinheiro para casa. Lamentavelmente 5 jovens não puderem mais sonhar (longa metragem «Revolução sem sangue).
Em breve a celebração do dia da mulher, 8 de março. É que o mundo sem as mulheres seria mais cinzento. Elas têm pinta. Alegram quando é para alegrar. São as mães dos filhos do planeta terra a quem Deus nos deu esta benesse. Choramos mas erguemos a vida, vamos à luta quando é preciso.
Sou mulher e tenho precisamente a idade mediana da população residente em Portugal. «Por cada 100 mulheres residentes, existem 91 homens». O Dia Internacional da Mulher advém da homenagem a 129 operárias que morreram em Nova York, numa fábrica têxtil, derivado a um incêndio propositado, a 8 de março de 1957. Esta celebração alerta sobre os problemas de género no mundo e celebra ainda várias conquistas femininas ao longo do tempo. A Comissão Europeia lançou a Estratégia para a Igualdade de Género 2020-2025. «A Estratégia preconiza «uma Europa em que mulheres e homens, raparigas e rapazes, em toda a sua diversidade, sejam iguais e livres de seguir o caminho de vida que escolheram, tenham as mesmas oportunidades de realizarem o seu potencial e possam participar na nossa sociedade europeia e dirigi-la, em igualdade de circunstâncias.» (Eurocid)
Como explicar à juventude a importância de participar nas eleições e como reverter a falta de militância? Um estudo recente realizado por Raquel Matos e Mónica Soares verificou uma “evidente falta de formação dos jovens sobre o funcionamento dos partidos e dos sindicatos” e sabemos que eles não gostam da parte burocrática.
A Comissão Nacional de Eleições esclarece dúvidas, se posso levar a minha caneta, se existe o boletim em braile ou prioridade, se há transporte para o local de voto, caso me engane a pôr a cruz, entre outras. Temos um cartão a menos na carteira, o número de eleitor foi abolido. O voto antecipado permite a doentes, presos ou pessoas em mobilidade exercer tal direito. A Lei da Paridade vem atestar a representação mínima 40% de cada um dos sexos.
Sou mulher e voto. Calço sapatos de salto alto, visto uma roupa casual, de braço dado ao marido, como num jantar de gala, aproveito para conhecer mais umas pessoas da aldeia e claro, dia 10, saberei o rumo do meu país.