Quero ouvir o som da madrugada
Em meio ao silêncio, no timbre do nada
Quero ver as pombas a dançar
A dança que se faz embalada
E num grito de dor pelo que vejo acontecer
Eis que brota a madrugada
Quero parar, fechar os olhos e escutar
Aquela dor de um povo silenciado
E não, não posso crer que esteja assim amarrado
O que os meus olhos se permitem ver
Ao som desconcertado desta madrugada
E no silêncio da tranquilidade acolhida
Pergunto-me o que faremos nós
Se não queremos dar guarida?
Seremos os atores de um palco gigante
Alheados ao flagício, sofrimento
vemo-los apenas como um momento
De uma série inovadora de terror, na tela doravante
E assim nasce a madrugada penosa
Já não basta o sentimento
Nem olhar só para dentro de nós
Há que suplicar a Deus, levantar a nossa voz
Abraçar este inimigo, num banho de perigo iminente
Onde o mergulho do amor se ensinará pra sempre
Qual é afinal o meu papel neste drama
É madrugada, e eu deitada na minha cama
Quando gente que também é gente
Dorme acordada, gemendo, assustada
trama cruel da humanidade
Na madrugada nascida enclausurada
Ai madrugada, madrugada
Não posso, não posso ficar alheada ao desvario
Imploro pois ao Senhor dos exércitos
Que peleje com a espada da redenção
E o estio da paz seja a conclusão
E que enfim, madrugada
não te ergas ensanguentada.
24 Agosto 2021
Dedicado ao povo Afegão.