
Apresentava-se figura mistério
Dançava na chuva, tocava saltério
Vestia-se pimpão em fato alongado
Não cobrava tostão ao serviço das gentes
Não fazia seleção e impunha seu critério
Velhos ou novos estimava seus clientes
Trazia na algibeira um lampejante saco
No ombro o seu pequerrucho macaco
Em vez de caminhar pulava
Movia-se exuberante de casa em casa
Rejeitava os fingidos
Apurava os vigilantes
Captava os adormecidos
Logo o saco se avolumava
Tal era o porte das fantasias
Com lucidez as selecionava
Honrava cristalinas utopias
E removia tresloucadas manias
Durante o dia dormitava
No casarão enigma, junto à fonte
Ao pôr-do-sol, enérgico despertava
Empreitada exigente pela frente
Vontades sinceras no horizonte
Foto: internet